sábado, setembro 25, 2004

A guitarra dedilha os primeiros acordes e arrasta o meu olhar para o palco do sucesso. Ela senta-se demorada e principia o seu concerto. A melancolia ir� instaurar-se dentro de um breve e fugaz segundo e hoje, mais que em qualquer outra noite, eu embarco na nave das recorda��es e pinto-te aqui comigo, quem dera...abra�ados a escutar as mais belas frases cantadas.

Sorris ou choras, n�o importa porque terei a mesma express�o que tu, n�o interessa qual, terei a for�a do teu olhar, porque nesta noite eu voltei a ser alma contigo, voltamos a um n�s. E recrio-te balan�ando o corpo ao som da melodia, beijando os meus cabelos e sussurando-me palavras doces e inesquec�veis. Porque nesta noite, mais que em qualquer outra, n�o tenho medo de te recordar. E por isso escuto os inquietos sons como se fosses tu que ali estivesses e a cada toque de luz atinjo-te maioritariamente.

Ela canta e eu canto com ela, para ti. Dedico-te todas as can��es, as letras, as melodias, as composi��es. Porque nesta noite � s� em ti que eu penso. No que daria para ouvires a mesma m�sica que eu, esta noite, aqui, hoje. E que me amasses como se tudo fosse findar amanh�. Mas o futuro n�o existe certo em n�s e nesta noite eu choro por saber que n�o est�s, que n�o �s.

E oi�o a �ltima can��o sozinha porque da minha ilus�o tu j� te foste embora...

[escrito no dia 24 de Setembro, pelas 2.30 da madrugada, depois de assistir ao vivo ao concerto de Mafalda Veiga...]

"Pressinto os teus gestos quando n�o est�s
procuro os teus sonhos perdidos...
� que hoje mais que qualquer outra noite
h� qualquer coisa que me fere
e que me faz tanto ter te aqui...
N�o importa
se �s vezes tudo � breve como um sopro
N�o importa
se for uma gota s� de loucura
que fa�a oscilar o teu mundo
e desfa�a a fronteira...
...entre a lua e o sol..."

quarta-feira, setembro 22, 2004

Deixa-me que te fale, que te conte uma hist�ria de fadas, encantada, de fantasia e de imagina��o. Deixa-me que te fale de duas almas:

Quando ela sofreu, na chuva, sozinha, ele apareceu. Quando ela, na ponte, se quis atirar, ele a segurou. Quando ela pintou com tintas negras a sua tela da vida, ele ofereceu um boi�o de tinta amarela para a alegrar. Quando ela suspirou por tristeza, ele tocou um cl�ssico na guitarra, dedilhando todos os momentos que j� passaram juntos.

Ela descobriu-o como tesouro essencial, ele encontrava aquele significado especial que atribu�a a ela. O cora��o apertava cada dia em que n�o se encontravam somente para se rir.

- E agora?

Semanas e semanas depois falam...

- E agora?

� ela que o procura, para o trazer de novo a este conto de fadas. Diz-lhe baixinho que n�o precisa de abandonar nada, apenas de recordar o que foi, o que j� n�o � mas talvez volte. Uma amizade n�o se perde. Mas ele diz-lhe que j� n�o se sente � vontade. E compara-a com tantas outras.

- Mais uma...

E o tal significado especial poderia ter sido diferente e n�o se perder. E os contos fantasi�veis tamb�m poderiam permanecer no ?tapete voador do calend�rio?...mas para qu� compreender a incerteza da vida?

Sim, continuam [quase] como dantes, as mais belas hist�rias de duendes e florestas encantadas e fadas e borboletas n�o se quebram desta forma. Mas agora condicionados porque ela j� n�o o conhece. E ele n�o a quer conhecer.

- Mas essa hist�ria � verdadeira?

N�o...como te disse, � apenas mais um conto de fadas...perdido no tempo...



sábado, setembro 18, 2004

Brinco contigo. Est�s sentado e assistes friamente como se n�o fosse para ti a sensualidade dos gestos, dos movimentos. Estendo-me na cama para te tocar nos l�bios e no momento m�ximo em que desejavas sentir a minha l�ngua quente na tua, fujo como uma crian�a rebelde. N�o esperavas. Nem eu de mim esta faceta er�tica e provocadora.

Mas apetece-me brincar.

Rodopio sobre os meus p�s frios, enregelados da noite de Inverno e sorrio inocentemente. Gostas. Vejo pelo teu olhar como aprecias este jogo.

Sento-me � tua frente e ro�o o meu corpo nos len��is c�lidos dos orgasmos que juntos partilhamos. Sei que me queres neste momento. Mas sofre. Tamb�m eu o fa�o, por ti, tantas vezes.

Insisto na pornografia das atitudes: no morder do l�bio at� sangrar de prazer, nos toques perversos nos meus mamilos, acaricio-me sem preconceitos e acendo-te a chama da fantasia.

Imaginas-me nua. Imagino-te meu. Queres-me para ti. N�o te pe�o para possuir, o que � nosso foge sempre. Trincas a carne madura da tua boca, como para afugentar os sentimentos. Eu lambo os meus l�bios, para te deixar ainda mais fora de ti.

Aproximo-me de ti e sussurro-te algo que nos esquecemos no segundo a seguir. Prendeste-me com esse olhar meloso e fascinante e todo o meu jogo pela �gua desceu lentamente. Ao beijares a minha boca sedenta de ti, perco o mundo ao meu redor, perco a no��o de toda a realidade e espero. E esperei pelo momento certo para te dizer que te Amava. Mas n�o chegou. Porque tu n�o chegaste tamb�m. N�o atingi a tua alma, como o meu corpo tu atingiste.

Desiguais. Vivemos de formas diferentes. E s� na cama somos parceiros. Companheiros de amor. De prazer. De liberdade fantasmag�rica de um delicioso orgasmo. N�o sei se � certo. Mas prossigo.

Levanto as minhas pernas e espero por mais um destes jogos. As minhas pernas cansadas s�o agora elevadas ao C�u, como se dessem gra�as ao Infinito por t�o bom sentimento, por t�o boa sensa��o...

E tu perdeste-te comigo no altar do Sexo...






quarta-feira, setembro 08, 2004

Ao Acaso

N�o � muito o meu costume fazer algo deste tipo, mas num passeio matinal por uns quantos blogs que me eram desconhecidos, encontrei algo que me chamou a aten��o: uma ideia genial, diria eu. O Isso Agora
sugeriu que, ao acaso, se abrisse um livro na p�gina 31 e se sublinhasse a primeira frase completa. Ora aqui est� a minha frase:

"Por natural misantropia ou demasiadas decep��es na vida desta mulher, insinuaria que a bonitez do sorriso n�o passava de uma artimanha de of�cio, afirma��o maldosa e gratuita, porque ele, o sorriso, j� tinha sido assim nos tempos n�o muito distantes em que a mulher fora menina, palavra em desuso, quando o futuro era uma carta fechada e a curiosidade de abri-la ainda estava por nascer.

Esta cita��o pertence a Jos� Saramago, foi retirada do livro Ensaio sobre a Cegueira. Sinceramente, n�o aprecio este escritor portugu�s, mas a verdade � que em conversa de caf� surgiram cr�ticas muito boas a seu respeito (particularmente a respeito deste livro) e eu n�o resisti � curiosidade.

At� agora nada tenho a apontar de errada, o senhor revela perspic�cia com as palavras e consegue levar-me algumas vezes � tontura. Rodopiar sobre o texto. � das melhores sensa��es que se pode ter enquanto se l�.

N�o vou aconselhar o livro porque ainda n�o o acabei, mas...n�o resistam � curiosidade como eu.

E ja agora, fa�am o mesmo, ao acaso, nos vossos blogs ou nos coment�rios!

sexta-feira, setembro 03, 2004

[Continua��o...]

Mas tamb�m sei que sou livre, hoje, aqui e agora. Livre para receber tudo o que a vida se dignar conceder-me, se eu for digna para o guardar. Livre para dizer que te amo sem nada esperar em troca. Livre para saudar o Sol, dan�ar � chuva, dirigir uma prece � Lua, invocar todos os meus Dem�nios. Livre para saber que a vida � um Dom e eu fui aben�oada com ele...

Penso. A liberdade surgiu-me atrav�s do olhar que naquele sil�ncio arrefeceu todo o meu corpo e despertou a verdade. Apercebi-me que sou livre de destruir tudo o que queira mas que, ao mesmo tempo, possuo em mim toda e qualquer capacidade de criar. Por isso naufrago na descoberta da cria��o e construo ao meu redor uma �urea de luz t�nue que me atraca a ti. Cheguei.

Cheguei, esperando tudo sem nada esperar, cheguei muda, cheguei rendida � for�a daquele olhar. Estendeste-me a m�o e a autenticidade desse gesto singelo voltou a unir a linha transparente que sempre nos levou a bom abrigo.

E apenas esse gesto desfez o gelo que me cortava enquanto me encontrava em ti. E apenas esse gesto destruiu a palavra, o olhar, os corpos angelicais que suam incondicionalmente por se sentirem t�o perto...

E tudo se desfez com aquele teu gesto s�...



Texto escrito no dia 30.Agosto.2004 , em conjunto com a Vi



quarta-feira, setembro 01, 2004

A noite desce paulatinamente sobre a cidade e a luz da Lua ilumina os passos que entrego �s ruas enquanto vou ao teu encontro. N�o aguardo nem desejo que me recebas com um abra�o apertado, as feridas n�o saram t�o velozmente como o tempo que sempre foge. Os segundos sem ti s�o eternos...e a eternidade sem ti n�o existe.

Eis uma daquelas noites em que as palavras se poderiam perder e n�o teria a m�nima import�ncia. Tudo o que devia ter dito e n�o disse ficou para sempre eternizado no segundo que durou aquele olhar. Frio como gelo, cortante como um punhal. O olhar que para sempre criou esta barreira m�gica que entre n�s se imp�e.

Aquele olhar vago, perdido algures nas malhas das horas que passam e n�o voltam, do rel�gio gigantesco da vida que n�o p�ra de rodar, girar fren�ticamente mas simultaneamente a uma velocidade vagarosa.

Caminho; sem pressa. Cruzo-me com faces desfiguradas, presas nas pedras da cal�ada. N�o erguem o olhar nem eu necessito que o fa�am. Apenas preciso que tu levantasses o teu rosto cru e me abarcasses a solid�o, sugando-a toda para um lugar long�quo que n�o conhe�o, nem tu. Mas n�o espero por nada de diferente do que me d�s ultimamente. De ti sei o que o teu olhar me reserva: uma facada inanimada no meu ser abandonado...

[Continua...]



Texto escrito no dia 30.Agosto.2004 , em conjunto com a Vi