ando em bolha de ar, na esperança de encontrar o momento certo para ser. procuro a liberdade de deixar a bolha que me protege mas que também me inibe. procuro o minuto exacto para deixar de ser a bolha e passar a ser o próprio ar.
por minutos, há a ilusão de o ser; dentro da bolha também há o ar. no entanto, a imensidão que busco e que se quer saudável é confinada a essa bolha de ar, que vagueia pelo céu, desnorteada.
sou bolha de ar e canso-me da condição. apetecia-me apenas ter uma agulha para espetar na superfície alienada da bolha e apenas ouvir um «pfiu», que significaria essa minha exaltação do ser.
a bolha de ar aborrece-me. deixa-me sem sabor, perpetra-me a impossibilidade de apimentar a minha vida. a bolha de ar aprisiona-me em mim mesma. nela respiro-me.
tudo seria mais fácil se aceitasse ser bolha de ar. ou se, pelo contrário, tivesse a coragem de me derrotar. tivesse a amabilidade de me permitir.
tudo seria mais fácil se não fosse difícil.