Os sapatos ecoam no silêncio ensurdecedor da noite escura, como badalos de sinos das Igrejas antigas situadas numa Aldeia esquecida,
toc toc, vão compondo uma ode esplêndida, floreada de passos elegantes e delgados. Espadaudos, até.
Toc toc. As saias curtas e os corpos disformes disfarçam-se com as aparências das sombras, ninguém vê nem ninguém repara, à noite tudo é semelhante.
Estas que caminham pela
passerelle da cidade são pagas. Recebem para entregarem ao outro o seu corpo e. tantas vezes. a sua alma (o tesouro mais escondido...). São remuneradas ilegalmente e o único trabalho que conhecem tão bem é o de serem escravizadas sexualmente. Mas gostam (ou não têm alternativa?).
Os sapatos pesam, cansam, são reflexo de uma noite estafada, produtiva. Caminham para casa agora,
toc toc, qual casa, qual vida esta?, foram estes sapatos que mil vezes elas se esqueceram de tirar tal era a pressa do patrão para pagar ao corpo que se esperneava defronte dele.
Uns procuram desesperadamente a satisfação do desejo...outros, recusam sequer pensar que satisfazem o desejo. Impressionante.
Até as putas são tristes!...