Levou a mão à cabeça, contudo, não foi com a intenção de esconder a sua mágoa. Simplesmente lhe pesava a cabeça. Pesava-lhe a alma, toda condensada naquele minuto de aflição.
Ele, porém, interpretou aquele agarrar de cabeça como o início de uma turbulenta onda de lágrimas e, imediatamente, a abraçou. O abraço fora de tal forma forte que ela, por momentos, sentiu-se sem respirar. Bela sensanção, a de não respirar. Não respirando, não se sente. Não se sente, não se fica com a cabeça pesada. E que pesada estava...Mas ela, no fundo, não precisava de não respirar.
Depois de uma eternidade sufocada, ele afasta-se dela, pega-lhe os ombros, puxa-a para bem perto dele novamente e olha-a; aliás, fita-a. Que aquilo, de certo, não era olhar, não era o seu olhar...fita-a de tal modo que ela sente cada peça da sua roupa cair, desprotegida, na calçada daquela rua. Fita-a de tal maneira que a intensidade daquele momento a deixou paralizada. E ele gritou, e ele abanou-a, e ele deixou-a cair sozinha num canto. Ela... ela ficou imobilizada, para todo o sempre, talvez.
Ele tirou-lhe a respiração, logo, o sentir. Ele tirou-lhe a roupa, logo, o seu mistério. Ele, simplesmente, a devastou.
E tudo o que ela precisava era apenas um segundo; apenas um segundo para segurar o peso da sua alma...