Abro os olhos o máximo que consigo e fixo o olhar neste bosque onde o verde se mistura com o castanho e as árvores são pequenos gigantes das grandes cavernas do Norte...fecho-os ainda com mais força para gravar na minha memória o som das águas dos riachos que acompanham o caminho e a melodia cantada em cânone pelos diversos pássaros deitados sobre as ramadas das árvores.
A chuva que cai torna a terra mais viva, metamorfoseando-a em lama...quente e abstracta...os meus pés são de barro, moldam-se com o andar constante pelos trilhos que me levam a Compostela...
As mãos de plasticina agarram com firmeza o cajado que marca o ritmo que faço com o andar, e todo o meu corpo náufraga nesta beleza que não se explica em palavras.
Milhares de outros peregrinos já passaram por cima destas folhas secas que estalam ruidosamente: ainda oiço as suas preces e orações e os seus pensamentos folhados de força e coragem. Milhares de outras pessoas seguiram as setas e as vieiras para chegar à imponente cidade de Santiago, como eu agora sigo atentamente. Elas (as vieiras) desenham o norte, o trilho que leva ao sonho e à utopia.
A minha alma entrega-se a este diário de bordo que lança palavras ao bosque e procura o ânimo na vegetação e paisagem inesquecíveis.
Aconselho esta viagem a todos que queiram conhecer-se a si mesmo, como o Papa João Paulo II fez em 1982 durante os Caminhos e como eu fiz agora em 2005 e como tantos outros já fizeram em séculos passados.
Esta foi a minha oportunidade. Não percam a vossa…