Os olhares pressionam-me: na primeira fila do auditório, rodopio a minha visão na busca de alguma calma; mas sinto a responsabilidade de falhar sussurrar-me ao ouvido, arrepiando-me, aumentando o meu batimento cardíaco. Procuro alguém tão perdido quanto eu e neste encontro só contacto com segurança nas letras que outros escrevem [as minhas não saiem da tinta da caneta].
Entrego. Não entrego. Só estou eu e a minha sombra inibida neste côagulo de transparência. Tremo e suo.
Entrego ou não entrego. Opto por mais uns segundos presa na prova e esperando alguma luz que brilhe no meu cérebro.
Tacteio a mesa, divirto-me com a ponta afinada da esferográfica, e observo a folha branca como a minha mente: bloqueada. Perco-me no sempre da desconcentração.
E quando dou por mim... um, dois e três levantam-se sorridentes para entregar a prova. Agarro na minha, ergo-me também, sem alguma espressão no rosto. Não mostro emoção. Apetece-me gritar mais alto que nunca mas prendo o grito num nó apertado, contenho a bomba que sou eu, prestes a atingir explosão.
Assino a folha de presença e pego nas minhas coisas. Os pés carregados embalam-me para o lado de lá desta fantasia. Pela terceira vez, falho. Não tem valor o meu empenho. Desiludo-me e desiludo os outros. Cravo em mim, a ferro e fogo, o pensamento que não sou capaz. Não o sou...mesmo...
E assim me sinto exposta, a todo e qualquer estímulo. Como se me arrancassem a roupa...e ficasse desarmada.