segunda-feira, maio 16, 2005

Gravidez



Volta e meia, imagino-me. Nua, deitada no escuro. Deleitando-me com o prazer de senti-lo dentro de mim, rebolando lentamente, socorrendo-se das migalhas minhas que desprezo. Imagino-me sonhando com o dia de renascer, com a beleza de lhe tocar, de o abraçar. De saber que veio de mim, meu semelhante e minha criação [e tua]. Numa noite em que os lençois não abarcaram o calor dos nossos corpos e, fundidos um no outro, aquecemos a terra com mais uma alma especial.

Hoje, pensei nisto. Acordei com a sensação de estar grávida. Pronta a dar à Luz. Andei o dia inteiro a pensar na sensação, revivendo os momentos de sentir a barriga a crescer. Várias vezes levei a mão ao toque sensível e as lágrimas surgiram no próprio instante.

"Há espera de sentir o mar..."

quarta-feira, maio 11, 2005

Na morte...



É um canto. Um rectângulo. Melhor, um espaço minúsculo, tão minúsculo que estou dobrada sobre mim própria. E sim, é um canto ou um rectângulo onde, por dentro do som daquela flauta transversal que toca na rádio, eu abafo as minhas lágrimas. Ou lâminas. Tanto faz. Ambas cortam. Corto-me. O sangue jorra como fonte de borboletas livres. E sou feliz. Sem ti. Não vês? Eu, no canto, a ser feliz.

E entras no jogo maquiavélico que belzebu preparou para nós na ceia do amor. Não entres...eu não saio daqui.

A tua fotografia espera-me todos os dias, deitada ao lado da minha almofada. Está dobrada., malfadada de tanta promessa que deflagrou sobre ela. Tanto choro e dor. Tanto desespero.
Quantas vezes, meu amor, quantas vezes eu me encostei nela e senti o teu cheiro, beijei a tua boca, arrepiei-me com as tuas mãos…quantas vezes...

E agora, estou aqui. À beira da morte. A escrever para ti o que nunca te disse. Que fui feliz. Que sou feliz. Mesmo que não estejas comigo, ver-te feliz sempre mo fez também.

Um último suspiro. De saudade, de tristeza, de recordação pelo que fomos e pelo que fui. Um último sorriso. De agradecimento, de paixão, de loucura. Um último...naufrágio em ti.

sexta-feira, maio 06, 2005

Caminho

Começa a escurecer... preparo a roupa, a mala, os sapatos e a boa vontade. Saio à rua. pelos caminhos que me levam ao café, observo as pessoas, as plantas, os animais, as pedras. Nada muda: tudo é similar, dia após dia.
Enquanto vou, desejo que numa noite destas, enquanto escurece, algo de diferente ocorra enquanto percorro este trapézio vertiginoso. Algo irreverente.

Não procuro, mas quero.

Talvez seja altura de obrigar as oportunidades, arrancar esta mordaça que me cala, que me transforma em cinza. Pedir para o longe chegar hoje, dentro de mim. Abrir janelas de um palácio à muito adormecido e perseguir o fundo, naufragar no eterno.

No eterno dilema da diferença....do caminho...