terça-feira, junho 26, 2007

Segundo...apenas um segundo...

Levou a mão à cabeça, contudo, não foi com a intenção de esconder a sua mágoa. Simplesmente lhe pesava a cabeça. Pesava-lhe a alma, toda condensada naquele minuto de aflição.
Ele, porém, interpretou aquele agarrar de cabeça como o início de uma turbulenta onda de lágrimas e, imediatamente, a abraçou. O abraço fora de tal forma forte que ela, por momentos, sentiu-se sem respirar. Bela sensanção, a de não respirar. Não respirando, não se sente. Não se sente, não se fica com a cabeça pesada. E que pesada estava...Mas ela, no fundo, não precisava de não respirar.
Depois de uma eternidade sufocada, ele afasta-se dela, pega-lhe os ombros, puxa-a para bem perto dele novamente e olha-a; aliás, fita-a. Que aquilo, de certo, não era olhar, não era o seu olhar...fita-a de tal modo que ela sente cada peça da sua roupa cair, desprotegida, na calçada daquela rua. Fita-a de tal maneira que a intensidade daquele momento a deixou paralizada. E ele gritou, e ele abanou-a, e ele deixou-a cair sozinha num canto. Ela... ela ficou imobilizada, para todo o sempre, talvez.
Ele tirou-lhe a respiração, logo, o sentir. Ele tirou-lhe a roupa, logo, o seu mistério. Ele, simplesmente, a devastou.
E tudo o que ela precisava era apenas um segundo; apenas um segundo para segurar o peso da sua alma...

5 comentários:

M disse...

Segundo esse que nem sempre aparece...

Anónimo disse...

gostei muito... transportaste me nem eu sei bem para onde..lool

Lumig disse...

Hmm... ainda escreves

Está fixe o layout.

Até breve

Israel Geraldes disse...

adorei este texto, muito intimista, tanto que resolvi escrever algo sobre ele espero que não te importes mas serviu me de inspiração. Aqui fica um pequeno excerto:
"Sem saber ela vestiu uma pele de alma desprotegida, ele sem soluçar sugou o momento e roubou-lhe o sentir deixando-a despida do seu precioso segundo".
bjitos

s. disse...

por vezes temos tanto dentro de nós, da nossa mente, que a vontade que temos é deixarmo-nos ficar. ali deitados. quietinhos. como se deixassemos de existir. o texto fez-me lembrar o quanto é dificil hoje em dia alguém conseguir olhar nos olhos outra pessoa. olhar de verdade. já (quase) ninguém o faz.