A janela está entreaberta. E a frescha minúscula exala uma brisa gélida, do tipo Outunal, que me arrepia e que se entranha no corpo, agora abandonado.
Ele olha para mim uma última vez, o seu olhar penetra na minha pele e sinto-o vaguear pelo meu interior, praticamente exposto. Ele acabará por sair, mais minuto, menos minuto, deixando-me para trás, destruída.
A porta bateu e ele, do lado de lá, deixa escapar um suspiro. O seu corpo trémulo é espelho das suas mãos ensaguentadas, do frio que sente, do suor que escorre na sua face. Todo ele é agora um misto de sensações, não de sentimentos.
Conforme se afasta, o meu corpo tende a arrefecer. Talvez a janela se tenha aberto mais um pouco ou então talvez seja a morte que chega, lentamente, com o frio.
Foi tudo medido ao pormenor. Em vez de me provocar uma morte rapida, ele escolheu o castigo extenso, tenebroso, lento, gélido. Talvez eu tenha merecido, o erro possivelmente foi meu. Deixar-me entregar desta forma.
Não se deve amar. Pelo menos, da forma como amei. Pois agora que ele já não me quer mais, foi como se me tivessem morto.
Um homicidio inigualavel, o homicidio de amor.
Deixo-me, então, invadir pelo frio causado pelo seu abandono, esqueço o sangue das suas maõs, o seu olhar invasivo, esqueço que sou e deixo-me ficar tal e qual ele também me deixou. Nos entretantos, espero um corpo quente que me acorde, de novo, para outro amor.
3 comentários:
A quem o dizes!
Muito me contas...
Triste, forte
intrigante
viver e amar nunca serão coisas faceis mas bastantes recompensadoras se tiver sorte e coragem
adorei muito
obrigado
Homicio perfeito. Porque o amor também dói e destrói.
Adorei.
Beijinho.
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